quinta-feira, março 29, 2012

Apoel, o orgulho cipriota

Quem acompanha o futebol em geral, mais especificamente a UEFA Champions League, certamente ouviu falar no nome do APOEL do Chipre. Ele é uma daquelas zebras que aparecem de vez em quando na Champions League e chama a atenção de todos com seu nome estranho e seu país virtualmente desconhecido. Como, tenho certeza que 99% de vocês se pergunta "Onde raios fica o Chipre e quem é esse tal de APOEL?", vamos aprender um pouco sobre o menor país presente na Champions League 2012 e seu mais pródigo filho.
Antes de mais nada, o Chipre é uma pequena (e belíssima) ilha localizada no Mar Mediterrâneo, próximo à Turquia, Síria, Israel e Egito. É um país independente, membro da União Européia e tem pouco menos de 900 mil habitantes (menos que a cidade de Campinas).
A ilha sempre foi dividida por uma população parte grega e parte turca. Durante a década de 70, apenas 14 anos após o Chipre conseguir sua independência da Coroa Britânica, um confronto entre Turco-Cipriotas e Greco-Cipriotas eclodiu no país após o governo vigente tentar transformar o Chipre em um estado da República da Grécia. Violência, tumultos e uma tentativa de golpe-de-estado do partido Grego marcaram este período de sua história. Eis que em 1974, a Turquia aproveita-se do caos instaurado na sociedade Cipriota e invade a fração norte da ilha. Mesmo após a assinatura do cessar-fogo, os turcos nunca se retiraram do local, o que causou uma divisão na ilha. Até os dias de hoje, temos dois territórios no Chipre: Ao norte o Chipre Turco e ao sul o Chipre Grego.
No lado grego da ilha, no ano de 1926, na capital Nicosia, era criado o Athletikos Podosferikos Omilos Ellinon Lefkosias (APOEL). O nome do clube quer dizer Clube Atlético de Futebol dos Gregos de Nicósia. O nome já ilustra exatamente do que era feito o material humano por trás da criação do APOEL, valendo ressaltar que na época, o Chipre estava sob a gestão da Coroa Britânica e era parte do Império Britânico. 
A criação do clube teve como interesse, além do futebol, o desejo de expressar profundo desejo pelo que os cipriotas chamam de 'Enosis' que seria a fusão do Chipre com a Grécia. Então, desde sua gênese, o APOEL e seus atletas tinham uma postura política forte, que veio a trazer problemas para o clube no futuro. O APOEL foi um dos membros fundadores da Federação Cipriota de Futebol, que começou a organizar o campeonato nacional em 1936, e o APOEL venceu os 5 primeiros campeonatos nacionais.
Na década de 40, o APOEL recebeu uma carta da Federação Pan-Helênica de Atletismo, convidando o clube a participar dos jogos e 'sugerindo' que as revoltas contra a Coroa fossem exterminadas. Com medo de serem engolidos pela guerra civil grega, alguns dos membros do APOEL se desligaram do clube e criaram o Omonia Nicosia, que curiosamente é o maior rival do APOEL.
O APOEL colecionou nestes 86 anos de existência 21 campeonatos nacionais, sendo o clube mais vencedor do seu país. Este 21º título nacional acabou levando o APOEL ao momento mais glorioso de sua história: não foi um título, mas sim uma classificação para a fase de grupos da UEFA Champions League, após bater o Skënderbeu Körçe da Albânia, o Slovan Bratislava da Eslováquia e o Wisla Cracóvia da Polônia. 
A conquista da vaga já foi motivo de festa no Chipre, porém nem o fã mais fanático do APOEL imaginaria que não pararia por ali: O APOEL foi sorteado como membro do pote 4, no grupo de Zenit, Porto e Shaktar Donetsk, se não gigantes, times de muita expressão no cenário europeu. O APOEL não se intimidou pela tradição do Porto, pelo dinheiro do Shaktar nem pelo recente título da Europa League do Zenit e terminou a fase classificatória em primeiro lugar no grupo com 9 pontos.
Nas oitavas de finais, o APOEL pegou pela frente o Lyon, que apesar de não estar fazendo uma temporada genial, certamente comemorou a sorte que teve no sorteio. Aí, mais uma vez o APOEL contrariou todas as expectativas e venceu o Lyon em casa por 1 a 0. Com a derrota por 1 a 0 na França, a decisão foi levada para os pênaltis, onde o APOEL conseguiu o inimaginável e eliminou os franceses, chegando as quartas-de-finais.
O valente APOEL pegou o gigante Real Madrid nas quartas-de-finais. Num heróico jogo de ida em Nicosia, no último dia 27, os cipriotas seguraram o galático ataque madrilenho por 70 minutos, até acabar levando 3 gols nos minutos finais da partida. Com uma verdadeira missão de Hércules pela frente em Madrid, o APOEL vai jogar o jogo de volta, se não esperançoso de vencer, sem nenhum peso nas costas, e a satisfação de uma missão mais do que cumprida.
A equipe do APOEL conta com 10 jogadores cipriotas, 6 brasileiros (Kaká, Marcelo Oliveira, Aílton, Gustavo Manduca, Marcinho e William Boaventura), além de 4 portugueses, 2 gregos, um argentino, um paraguaio e um macedônio. 
Enquanto no Brasil, graças à rivalidade exacerbada entre os clubes, a maioria torce contra os compatriotas em campeonatos internacionais, no Chipre, todos tem o que comemorar junto com o APOEL, pois o desempenho do mesmo certamente levantará os números do quociente do país e melhorará a colocação do Chipre no Ranking UEFA, podendo (com a repetição de boas campanhas) conseguir galgar uma vaga fixa na competição algum dia.
Em uma época em que o dinheiro comanda o futebol e clubes gastam centenas de milhões em salários e contratações, é sempre ver um clube surgir do nada e conquistar muito na base da habilidade e da pura raça. Parabéns APOEL!