Em meados de fevereiro
de 2012, um fato inusitado assustou a comunidade política do futebol: A FIFA
exigiu explicações para a AFA (Associação de Futebol Argentina) quanto à
nomeação do Torneo Clausura 2012, em Torneo
Crucero General Belgrano – Clausura 2012, que a FIFA considera passível de
punição para a AFA.
Qual o problema? Você
deve se perguntar, mas vamos entender melhor a relação entre a FIFA e as
organizações nacionais:
Todos sabem que a FIFA é
a organização que gerencia o futebol em todos os seus aspectos. Para o mal ou
para o bem, a organização baseada na Suíça é quem manda no esporte mais popular
do mundo. Como toda organização regente, a FIFA possui seu estatuto, e todas as
federações que são associadas à ela tem de aceitar este estatuto e suas
diretrizes.
Pois bem, desde que a
FIFA ganhou força e notoriedade, liderada pelo brasileiro João Havelange, e
despontou como a máquina de fazer dinheiro e influência que é hoje, ela decidiu
que seria de seu papel intervir na relação política entre os países associados.
A ideia é louvável, usar o efeito do futebol na paixão dos países, para ajudar
a na mediação política é uma atitude nobre ainda que, às vezes, na prática as
coisas não sejam tão poéticas.
Como é de conhecimento
de todos, em 1982 a Argentina entrou em guerra com a Grã-Bretanha por conta de
um pedacinho de terra gelada chamada Ilhas Malvinas (ou Falkland Islands para
os britânicos). Nesta, curtíssima guerra, a maior (e mais polêmica) baixa foi a
do navio ARA Crucero General Belgrano,
afundado por um submarino Inglês, que resultou em 323 mortes argentinas. Este
evento foi o principal divisor de águas na história da guerra e acabou por
pesar muito na balança para a vitória britânica e retomada do controle das
ilhas. A polêmica em torno deste ataque é que ele ocorreu dentro de uma Zona de
Exclusão Britânica, o que implicaria em um Crime de Guerra, ou um ato
traiçoeiro, como declararam os Argentinos na época.
Ilhas Malvinas (Falkland Islands) |
Voltando ao presente, em
2012, o fatídico evento completa 30 anos de aniversário, e a Associação
Argentina, achou que deveria honrar as vítimas e a história do país, nomeando o
campeonato como o navio afundado. Acontece que a FIFA enxergou este ato como um
ato de provocação à Inglaterra.
Por mais óbvio que seja
a intenção da Federação Argentina em honrar um episódio triste da história do
país, a FIFA preferiu aparecer e “causar“. A pergunta que fica é:
Que Inglês ficou
ofendido com o fato?
Primeiramente, quem teve
o navio afundado, soldados mortos e perdeu a ilha, foi a Argentina. Ofensa
grave seria se a Federação Inglesa resolvesse que ao invés de Barclays Premier League, seu campeonato
passasse a se chamar Captain Belgrano’s
League. Segundo, a importância do
campeonato argentino é praticamente nula no território europeu, tanto é que se
FIFA não tivesse dado o alarde, dificilmente alguém teria conhecimento do fato
na Inglaterra. Então, no máximo, o que a FIFA conseguiu fazer com este ato foi
prestar um desserviço à diplomacia entre os dois países.
O problema desta
mediação política para a FIFA é que os responsáveis pelas mesmas são
empresários e executivos, não diplomatas. As decisões podem e geralmente serão
tendenciosas e possivelmente erradas. Em um mundo ideal, ela guardaria seus pitacos
diplomáticos para questões realmente relevantes, como tensões militares e
ditadores genocidas, ao invés de servir como Central de Fofocas Futebolísticas,
como parece ser ultimamente.
E você, o que acha das
atitudes da FIFA?