sexta-feira, março 16, 2012

FIFA, Argentina e o General Belgrano


Em meados de fevereiro de 2012, um fato inusitado assustou a comunidade política do futebol: A FIFA exigiu explicações para a AFA (Associação de Futebol Argentina) quanto à nomeação do Torneo Clausura 2012, em Torneo Crucero General Belgrano – Clausura 2012, que a FIFA considera passível de punição para a AFA.
Qual o problema? Você deve se perguntar, mas vamos entender melhor a relação entre a FIFA e as organizações nacionais:
Todos sabem que a FIFA é a organização que gerencia o futebol em todos os seus aspectos. Para o mal ou para o bem, a organização baseada na Suíça é quem manda no esporte mais popular do mundo. Como toda organização regente, a FIFA possui seu estatuto, e todas as federações que são associadas à ela tem de aceitar este estatuto e suas diretrizes.
Pois bem, desde que a FIFA ganhou força e notoriedade, liderada pelo brasileiro João Havelange, e despontou como a máquina de fazer dinheiro e influência que é hoje, ela decidiu que seria de seu papel intervir na relação política entre os países associados. A ideia é louvável, usar o efeito do futebol na paixão dos países, para ajudar a na mediação política é uma atitude nobre ainda que, às vezes, na prática as coisas não sejam tão poéticas.
Como é de conhecimento de todos, em 1982 a Argentina entrou em guerra com a Grã-Bretanha por conta de um pedacinho de terra gelada chamada Ilhas Malvinas (ou Falkland Islands para os britânicos). Nesta, curtíssima guerra, a maior (e mais polêmica) baixa foi a do navio ARA Crucero General Belgrano, afundado por um submarino Inglês, que resultou em 323 mortes argentinas. Este evento foi o principal divisor de águas na história da guerra e acabou por pesar muito na balança para a vitória britânica e retomada do controle das ilhas. A polêmica em torno deste ataque é que ele ocorreu dentro de uma Zona de Exclusão Britânica, o que implicaria em um Crime de Guerra, ou um ato traiçoeiro, como declararam os Argentinos na época.
Ilhas Malvinas (Falkland Islands)
Voltando ao presente, em 2012, o fatídico evento completa 30 anos de aniversário, e a Associação Argentina, achou que deveria honrar as vítimas e a história do país, nomeando o campeonato como o navio afundado. Acontece que a FIFA enxergou este ato como um ato de provocação à Inglaterra.
Por mais óbvio que seja a intenção da Federação Argentina em honrar um episódio triste da história do país, a FIFA preferiu aparecer e “causar“. A pergunta que fica é:
Que Inglês ficou ofendido com o fato?
Primeiramente, quem teve o navio afundado, soldados mortos e perdeu a ilha, foi a Argentina. Ofensa grave seria se a Federação Inglesa resolvesse que ao invés de Barclays Premier League, seu campeonato passasse a se chamar Captain Belgrano’s League.  Segundo, a importância do campeonato argentino é praticamente nula no território europeu, tanto é que se FIFA não tivesse dado o alarde, dificilmente alguém teria conhecimento do fato na Inglaterra. Então, no máximo, o que a FIFA conseguiu fazer com este ato foi prestar um desserviço à diplomacia entre os dois países.
O problema desta mediação política para a FIFA é que os responsáveis pelas mesmas são empresários e executivos, não diplomatas. As decisões podem e geralmente serão tendenciosas e possivelmente erradas. Em um mundo ideal, ela guardaria seus pitacos diplomáticos para questões realmente relevantes, como tensões militares e ditadores genocidas, ao invés de servir como Central de Fofocas Futebolísticas, como parece ser ultimamente.
E você, o que acha das atitudes da FIFA?